Catarse de rua - Pitty se apresenta na 9ª Bienal da UNE

Ontem, em plena segunda-feira, eu acordei às cinco horas da manhã. Abri os olhos e notei a escuridão típica da madrugada, e meu único pensamento foi voltar a cochilar até as seis. Aí eu tive que levantar. Tomei um banho rápido, joguei muita água no rosto e esfreguei os olhos. Respirei fundo e saí para o trabalho após colocar uma cápsula de energético para dentro. No ônibus, quando finalmente pude cochilar, não consegui - a ansiedade não permitiria tal coisa.
Essa é apenas uma das consequências de trabalhar a duas horas de distância de casa e viver nessa jornada múltipla. Sempre que tenho um compromisso noturno, preciso levantar da cama cedo para dar tempo de fazer tudo. E a ansiedade não permite, nunca, aqueles cochilos agradáveis ao longo das viagens de ônibus.
Cumprido o expediente, passei em casa apenas para vestir galochas. Afinal, depois de meses sem uma chuva decente, tivemos dois dias de tempestades no Rio de Janeiro e eu não podia molhar o All Star branco que uso para trabalhar. Os objetos do dia-a-dia saíram da mochila para dar lugar a casacos com capuz e uma capa de chuva. Tudo pronto para seguir meu caminho até os Arcos da Lapa, onde mais tarde aconteceria um dos shows da programação da 9ª Bienal da UNE. O show da Pitty.
Sempre fico um pouco receosa antes de um show, provavelmente um sintoma da ansiedade. Minha mente cria expectativas tão  grandes que rola um medo da coisa não ser bem daquele jeito. Neste caso, eu estava preocupada em ter que enfrentar uma multidão após um dia de trabalho, tendo acordado às cinco. Decidi desde bem antes que eu nem tentaria me aproximar do palco, acharia um lugar tranquilo perto das barracas de bebida e curtiria dali, pacificamente.
Foi o que eu fiz. Exceto a parte do "pacificamente".
A energia de Pitty é sempre maravilhosa, mas a coisa flui diferente quando estamos falando de uma verdadeira multidão ali na rua. Eu achei que a galera ao meu redor estaria em uma vibe mais tranquila, ali apenas por estar, e foi uma surpresa deliciosa quando percebi todos ao meu redor cantando junto, gritando junto. Meninas gritavam elogios quase como se a Pitty pudesse nos ouvir de tão longe.
Ela, por sua vez, fez uma apresentação digna de movimento estudantil, toda cheia de recados e mensagens para aquela galera nova que ainda está construindo seus valores e seu futuro. Eu mesma tive a Pitty como referência nessa fase, e sei quanta coisa boa me rendeu. Orgulha saber que ela mantém os valores, bem mais desenvolvidos e seguros agora, e continua passando isso para frente com a mesma paixão e fúria que tinha aos vinte e poucos.
Agora eu tenho vinte e tantos e me sinto inspirada. Tenho vontade de gritar, pular, escrever, cantar, colocar tudo para fora. Tenho vontade de trabalhar mais, produzir mais. Viver mais. Música faz uma parada engraçada com a gente, essa energia que começa a fluir quando você entra em sintonia com tantas outras pessoas.
Essa semana ainda rola muita coisa boa naquela Lapa. Infelizmente eu não tenho condições físicas de acordar tão cedo para os outros eventos, e minha jornada diária também fica mais puxada conforme a semana vai passando. Mas se você tem mais tempo livre do que eu, vale a pena dar uma olhada na programação do evento e chegar por lá.

Por um mundo com mais arte na rua.


P.S.: Minhas pernas doem pelo peso das galochas. Claro que não caiu nem uma gota de chuva durante o show inteiro, aliás.


Publicado em Flash Press.

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