Dead Fish no Circo – Um caos organizado e cheio de respeito

Publicado originalmente em Flash PressFotos: Cynthia Salles
Chovia durante todo o meu trajeto até a Lapa. Enquanto via as gotas escorrendo pelo vidro, lembrava dos outros shows do Dead Fish que eu havia assistido. Já fazia tempo desde o último, a gravação do DVD Dead Fish 20 Anos no Circo Voador. Eu estava ansiosa.
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Já acompanho a banda há dez anos e, depois de tomar muitas porradas, decidi que veria o show da arquibancada. Esse sentimento tem sido frequente, na verdade. Essa vontade de subir em um lugar alto e observar as coisas acontecendo. Fazer parte, mas de uma distância segura. E às 23h em ponto, vi subir ao palco a banda Cadibode, de Brasília. Instantaneamente uma roda se abriu sob a lona e eu percebi que aquela noite iria render. Maguerbes, de Americana – SP, veio na sequência. O vocalista Haroldo Paranhos desceu do palco e fez boa parte do show no meio da galera que respeitosamente abriu espaço para o cara surtar à vontade.
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Uma característica marcante dos shows do Dead Fish é a quantidade de gente que invade o palco para o bom e velho mosh. Rodrigo berrava suas letras politizadas no microfone enquanto, de dois em dois, o público subia ao palco para gritar junto e se jogar na galera de volta. A interação e o controle da galera mostra a eficiência de uma banda com mais de vinte anos de história. A set list foi extensa, um presente para os fãs que puderam ouvir músicas lá do início, como Molotov (do disco Sirva-se, de 1997), Paz Verde e Mulheres Negras (Sonho Médio, 1999). Esta última motivou um discurso de Rodrigo, que citou as garotas que curtiam o show de igual para igual com os rapazes, coisa que ele não costuma ver em outras regiões do país. “Mas isso não quer dizer que o carioca não é machista. Vocês são machistas sim. Tomem cuidado com isso.” Rodrigo pediu para formar um moshpit só de garotas, que prontamente subiram ao palco e tomaram os microfones para cantar no lugar dele.
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As músicas do novo disco, Vitória, se encaixaram bem nesta set list repleta de músicas antigas. É surpreendente ver a banda lançando músicas com a mesma energia e a mesma potência. Isso e uma base de fãs fiel fez desse show um momento especial para mim. Eu percebi que o tempo não precisa tornar nada previsível e chato. Era um caos de gente subindo e se jogando do palco, mas sem atrapalhar a banda. Era um caos de gente abrindo roda, mas sem machucar ninguém. Era um caos de palavras gritadas, mas sem perder a coerência e a inspiração. Ver uma banda antiga e adulta no palco me fez repensar a minha vida adulta também. Posso sinceramente dizer que esse show me rejuvenesceu uns dez anos.
Se eu pudesse definir a noite em uma palavra, seria caos. Um caos organizado e cheio de respeito.

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