A arte prevalece em nova turnê do Teatro Mágico

Publicado originalmente em Flash Press.


Sempre admirei a proposta do Teatro Mágico de fazer música com tantos elementos artísticos quanto forem possíveis – e de forma independente. Conheci a banda em uma tarde daqueles dias de semana entediados de quando ainda não tinha um emprego fixo no Rio de Janeiro. A fé solúvel, que até hoje é a minha música favorita da banda. Gostei da aparente simplicidade, da voz mansa, a letra cheia de trocadilhos inteligentes. Da poesia, principalmente. Ali eu senti o quanto Fernando Anitelli valoriza o conteúdo de suas palavras, que sempre têm algo a dizer. Fiquei encantada.
Há uns meses passei pelo quarto do meu sogro e o vi olhando para a televisão com o mesmo ar de encantamento que eu senti quando ouvi a banda pela primeira vez. Entrei e ele estava assistindo a um show, hipnotizado pelas luzes e melodias. Assim que soube que O Teatro Mágico se apresentaria no Circo Voador no dia 29/05, o convidei para ir comigo.
Quando chegamos, a banda Chalaça já estava no palco. O som dos caras me remeteu muito ao rock nacional da década de oitenta, uma mistura de Biquini Cavadão com MPB moderno. Enchemos nossos copos e nos posicionamos com uma vista legal do palco, intencionando não perder nenhum detalhe do espetáculo. Anitelli subiu ao palco entoando Mãos aos Desolados, faixa do álbum Grão do Corpo. A maior parte do set list foi deste último álbum, o que me decepcionou um pouco. Como a proposta da turnê é celebrar os onze anos da carreira, esperava ouvir um pouco mais das músicas antigas. Por outro lado, passei a dar atenção a uma fase da banda que eu não conhecia tão bem, já que não acompanhei os dois últimos discos. E fiquei novamente encantada.
Um dos pontos fortes do show sempre é a chegada das bailarinas, com sua coreografia perfeitamente adequada às músicas. Em certos momentos não dá para escolher para onde olhar. Anitelli é um showman extremamente versátil e performático. A iluminação, cenografia e distribuição de músicos no palco são impecáveis. A maquiagem e figurino dos músicos são por si só uma obra de arte. O público também tem a sua parcela de participação, com direito a coreografia em Pena e coro em absolutamente todas as músicas. Quando aquelas estruturas de metal aparecem e as bailarinas começam a se pendurar nos panos, não há outra reação a não ser tentar acompanhar aquilo tudo sem piscar. Perder um segundo seria imperdoável.
Tivemos uma noite magnífica e, inspirados pela liberdade independente do circo, a fechamos com uma visita à Escadaria Selarón com o único objetivo de não sair daquela atmosfera de arte alternativa e marginal. Música é mesmo uma coisa mágica, que sempre me coloca em um estado de imersão. Ainda estou com a voz de Fernando Anitelli ecoando na minha cabeça misturada à voz do público em O Anjo Mais Velho. Ainda estou completamente imersa na poesia que foi a minha noite de ontem.

Comentários