NBDP assistiu: Resident Evil 6: O Capítulo Final

Por Aline Ayçar.

Resident Evil: The Final Chapter. O capítulo final daquela que foi a franquia responsável pelo combo "zumbis + girl" power mais bem sucedido de todos os tempos. Para os que não acompanham, uma ótima opção de entretenimento. Para os aficionados – como eu – uma despedida longe de ser satisfatória, pois NÃO PARECE (nem queremos) um adeus.
Tudo começou há 15 anos (acredite se quiser!) com o lançamento do live action Resident Evil, que aqui no Brasil contou com o subtítulo “O Hóspede Maldito”. A promissora adaptação da série de jogos da Capcom trouxe Milla Jovovich no papel da icônica protagonista Alice, esbanjando sensualidade e mistério. Acredite, ninguém gostaria de ser um comedor de cérebros na frente dessa mulher! A personagem, criação para os longas, sabe pouco sobre a própria identidade mas sabe como ninguém chutar os traseiros dos mortos vivos sem perder a classe em seu inesquecível vestido vermelho. Junto a uma equipe militar – que inclui atores incríveis como o britânico da voz poderosa, Colin Salmon, e a texana mais badass que já existiu, Michelle Rodriguez – a moça com o melhor hair stylist do apocalipse zumbi tem que sair da Colmeia (laboratório da Umbrella Corporation, praticamente o único cenário do primeiro filme), com o corpo repleto de T-vírus e, de quebra, tentar entender o que diabos está acontecendo ali e na sua vida.
O filmes seguintes aumentam a escala consideravelmente. Resident Evil: Apocalypse leva a ação às ruas de Raccoon City, depois da disseminação do T-vírus. Uma Alice ainda mais fodona que a anterior agora combate criaturas um pouquinho maiores do que as que encontrara anteriormente, verdadeiro presente pros fãs do game que traz “vilões” como os lickers e o querido Nemesis. O deleite dos gamers é ainda maior com a união de forças entre Alice e os ferozes Jill Valentine, ex-membro do S.T.A.R.S., interpretada  brilhantemente por Sienna Guillory, e Carlos Oliveira, vivido pelo charmoso Oded Fehr. Em Resident Evil: Extinction, atravessamos os Estados Unidos num comboio em que Alice se junta à lindíssima Ali Larter encarnando mais uma mocinha dos jogos, Claire Redfield. Depois que a infecção atinge o nível global, Alice continua a enfrentar a Umbrella em Resident Evil: Afterlife e sua sequência, Resident Evil: Retribution. Afterlife ousou ao trazer Wentworth Miller – famoso como Michael Scofield, da série de 2005 “Prison Break” – no papel do irmão de Claire, Chris Redfield, enquanto Retribution sacia a curiosidade de ver Ada Wong e Leon Scott Kennedy em carne e osso. Bingbing Li e Johann Urb perdem um pouco de espaço para a personagem de Milla, mas o visual compensa uma vez que eles parecem ter saído diretamente dos consoles para a telona.
Quando chega a vez de Resident Evil: The Final Chapter já não há muito espaço para medo, imperícia ou fraqueza na vida de Alice. As dúvidas, porém, não foram sanadas ao longo de cinco longas e a premissa é não só dar fim aos zumbis, mas também explicar a história da amnésica protagonista. O visual do filme é o mais desolado (e desolador) até então, acompanhando o ritmo de destruição mundial. Os zumbis também estão bem mais decompostos do que seus antecessores, mas não têm o mesmo destaque. A trama gira muito mais em torno dos esquemas e intenções da Umbrella através de seus membros Alexander Isaacs – desde o segundo filme retratado por Iain Glen, mais conhecido como Jorah Mormont pelos fãs de “Game Of Thrones” – e o figurão dos jogos, Albert Wesker, privilégio do lindo ator canadense Shawn Roberts desde Afterlife. Um ponto alto do filme, além do retorno dos vilões, é a volta da senhorita Redfield e seus longos cabelos ruivos. O roteiro, porém, deixou a desejar na valorização de vários personagens, e tanto Larter quanto Roberts tiveram bem menos espaço do que o peso de seus papéis e respectivos talentos mereciam. Alice, no entanto, está mais madura e bem mais humana do que estivera em momentos prévios. A forma física de Milla está soberba e o filme soube explorar isso sem o clima apelativo instaurado em Extinction e Afterlife. Pontos também para iluminação e fotografia, transformando cenários facilmente monótonos em locais a serem cuidadosamente explorados pelos mais detalhistas. Ah, e falando em visual, a procissão de mulheres cheias de atitude ficou ainda maior com a participação – breve, mas memorável – da australiana do momento, Ruby Rose.

O pecado mor do filme, entretanto, recai mesmo sobre o roteiro. E não falo apenas em termos de espaço para atuação, não. Muitas das perguntas carregadas há tantos anos pelos fãs não só se mantêm, como chegar às respostas ficou ainda mais difícil. Não vou nem tentar enumerar quantas outras surgiram. A tentativa de explicar o passado de Alice entrou em conflito direto com várias descobertas e suposições feitas ao longo da série, deixando o espectador sem saber o que pensar. Entre Angela Ashford e Alicia Marcus, a própria origem do vírus se perde, o que é frustrante se levarmos em conta que Paul W. S. Anderson, diretor de quatro dos seis filmes, foi responsável pelo roteiro de todos eles. Não se sabe onde estão Jill Valentine, Chris Redfield, Ada ou Leon, e é bizarra a própria falta de menção a eles. A hierarquia da Umbrella também fica confusa, alterando drasticamente o que antes se sabia – ou pensávamos saber – sobre a relação entre Isaacs e Wesker. A ação está satisfatória, com monstros ainda maiores do que os já vistos, mas ficou bem mediano se lembrarmos da promessa deixada na última cena de Retribution: a representação de uma Washington com zumbis pra tudo o que é lado. Mais uma vez ficamos na expectativa de algo que poderia ser magnífico e que simplesmente não é mostrado.
Em última análise, o filme agradou. Talvez não tenha tido o nível “épico” que os mais apaixonados pela franquia aguardavam, nem tenha solucionado todos os mistérios, mas prende, instiga e – ainda estou na dúvida se categorizo isso como pró ou contra – deixa com vontade de mais. Apesar do nome, o longa metragem não convence como final. Sim, talvez fique complicado continuar em se tratando do desfecho, mas ainda há muitas, muitas pontas soltas para serem ignoradas. E é a Alice de quem estamos falando. Tudo, absolutamente tudo pode acontecer.

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