Por Aline Ayçar.
Para quem gosta de matar as saudades da infância – se você é do fim dos anos 80 ou início dos 90, como eu – Lizzie Borden não deixa a desejar. O longa metragem Lizzie Borden Took An Ax, feito para exibição na TV em 2014, traz Christina Ricci como a personagem título. Qualquer adepto da TV aberta nos últimos 15 anos definitivamente viu a mocinha ao lado do Fantasminha mais camarada de todos os tempos. Ou então, se você prefere algo um pouco mais sombrio, talvez se lembre de Wednesday Addams, a adoravelmente sádica filha do inesquecível casal Gomez e Morticia – interpretados à época pelo saudoso Raul Julia e pela arrepiante Anjelica Huston. "The Addams Family", lançado em 1991, não só marcou as carreiras de Julia e Huston, como também significou uma mudança na do ator Christopher Lloyd, já amplamente conhecido por seu papel como o Dr. Emmett Brown da franquia "Back To The Future". Desnecessário dizer que o longa, anterior à "Casper", alavancou a carreira de Christina, apenas um ano depois de ela ter começado a atuar para a telona.
Em "Lizzie Borden Took An Ax" acompanhamos a história real de Lizzie Borden, nascida em 1860 em Fall River, Massachusetts. Acusada de matar os próprios pais com um machado, Lizzie foi julgada e absolvida. A premissa do filme é exatamente mostrar o que se acredita ter ocorrido desde poucos dias antes dos assassinatos até o fim do julgamento. Christina exibe uma performance sensacional, principalmente considerando que o papel parece ter sido escrito única e especialmente para ela. Desafiadora, impetuosa, rebelde e – por que não dizer? – vanguardista, a personagem permitiu que Christina, dona de um ar delicado e quase frágil, explorasse ao máximo sua ironia, mesclada a uma falsa inocência que deu margem para muita, muita manipulação. Uma figura ímpar na vida de Lizzie que, consequentemente, merece destaque é sua irmã Emma Borden, interpretada por Clea DuVall (a Georgina de "Girl, Interrupted" e a agente do FBI Audrey Hanson de "Heroes"). A química entre as duas é válida de nota, pois elas parecem realmente irmãs nas adaptações, mostrando aquela mistura tão característica de tensão, admiração e proteção. Outros nomes a serem enaltecidos são Stephen McHattie, canadense com um ar super sinistro que ficou simplesmente perfeito (apesar do final não tão perfeito) como o pai de Lizzie, Andrew Borden, e o charmosíssimo Billy Campbell, de quem os fãs de terror lembrarão como Quincey P. Morris de "Bram Stoker's Dracula", encarnando o advogado de defesa Andrew Jennings.
Já a série da Netflix The Lizzie Borden Chronicles ocorre alguns meses depois do julgamento, com Lizzie e Emma tentando reconstruir suas vidas diante do ostracismo que sofrem na pequena cidade. A personagem de Christina, uma vez absolvida, esbanja humor negro e não demonstra se importar com o que pensam a seu respeito. Uma verdadeira bon vivant depois de tudo o que passou, Lizzie não mede esforços (nem economiza no uso dos mais variados métodos de execução) para conseguir o que quer. Embora não esteja mais encarando um tribunal, um certo Charlie Siringo (vivido por Cole Hauser), nada mais nada menos que um agente Pinkerton, não sai da sua cola e a situação só se complica à medida que o número de corpos ao redor das Borden aumenta freneticamente.
Tanto o filme quanto a série seguem um determinado padrão. Com apenas um ano de diferença entre os lançamentos, seus pontos tanto positivos quanto negativos se mantêm, e fico feliz em declarar que, em minha humilde opinião, os primeiros derrubam os últimos com louvor.
A maquiagem e os efeitos, apesar da violência explícita, não caem no ridículo nem no apelo desnecessário. Tal qualidade só é valorizada pelo uso constante do slow motion e pelo contraste inteligente de cores em várias cenas. E já que falei de cores, os cenários - apesar de muito "limpinhos" - foram muito bem elaborados, desde a escala até os objetos de cena. Os figurinos vão desde o "clássico para não errar" até algumas extravagâncias de cair o queixo, o jogo de cores sempre presente. Aplausos de pé para a equipe responsável por tais departamentos, e eu me permito menção honrosa a Joseph Porro, figurinista de trabalhos como "Salem", "Equilibrium", "Ultraviolet" e "Resident Evil: Extinction" e a David LeRoy Anderson, conhecido pelos entusiastas da maquiagem devido ao seu desempenho em filmes como "M.I.B.", "Dawn Of The Dead", "Cirque Du Freak: The Vampire's Assistant" e da série de 2015 "Scream Queens". A trilha sonora não se prende à época da trama, mas cai como uma luva, mesmo que os intérpretes envolvidos não estejam no lugar-comum do mundo musical. The Donkeys, Ted McCloskey, Carolina Chocolate Drops & Luminescent Orchestrii, Elijah Honey...enfim, muita pegada sulista / country / hard rock pra ninguém botar defeito.
O lado negativo, no entanto, fica por conta da previsibilidade. Não chega a ser algo tão óbvio, mas mesmo que o enredo não fosse baseado numa história real é um bocado fácil deduzir quem morre e quem não, quem se dá bem, quem foge, e assim por diante. Qual é a graça, então? Ora, a graça é que você acaba querendo assistir mais e mais mesmo deduzindo o que vai acontecer. O roteiro é simples, conciso e direto. A iluminação e as cores são um espetáculo digno de toda a atenção. Não há um membro do elenco cuja performance frustre. Não é nem um pouco cansativo devorar os 8 episódios lançados em um ou dois dias. E se mesmo assim o convencimento não for bem sucedido, lembre que Christina Ricci não apenas foi amiga de um fantasma, uma menina que prendia o irmão numa cadeira elétrica, a amada do caçador do Cavaleiro Sem Cabeça ("Sleepy Hollow" de 1999) ou uma lobisomem de Wes Craven ("Cursed" de 2005). Ela retratou a parceira da Aileen Wuornos que rendeu a Charlize Theron o Oscar de Melhor Atriz em 2004. Com uma escola dessas, não dá pra não ser uma das serial killers mais memoráveis que você um dia verá.
Para quem gosta de matar as saudades da infância – se você é do fim dos anos 80 ou início dos 90, como eu – Lizzie Borden não deixa a desejar. O longa metragem Lizzie Borden Took An Ax, feito para exibição na TV em 2014, traz Christina Ricci como a personagem título. Qualquer adepto da TV aberta nos últimos 15 anos definitivamente viu a mocinha ao lado do Fantasminha mais camarada de todos os tempos. Ou então, se você prefere algo um pouco mais sombrio, talvez se lembre de Wednesday Addams, a adoravelmente sádica filha do inesquecível casal Gomez e Morticia – interpretados à época pelo saudoso Raul Julia e pela arrepiante Anjelica Huston. "The Addams Family", lançado em 1991, não só marcou as carreiras de Julia e Huston, como também significou uma mudança na do ator Christopher Lloyd, já amplamente conhecido por seu papel como o Dr. Emmett Brown da franquia "Back To The Future". Desnecessário dizer que o longa, anterior à "Casper", alavancou a carreira de Christina, apenas um ano depois de ela ter começado a atuar para a telona.
Em "Lizzie Borden Took An Ax" acompanhamos a história real de Lizzie Borden, nascida em 1860 em Fall River, Massachusetts. Acusada de matar os próprios pais com um machado, Lizzie foi julgada e absolvida. A premissa do filme é exatamente mostrar o que se acredita ter ocorrido desde poucos dias antes dos assassinatos até o fim do julgamento. Christina exibe uma performance sensacional, principalmente considerando que o papel parece ter sido escrito única e especialmente para ela. Desafiadora, impetuosa, rebelde e – por que não dizer? – vanguardista, a personagem permitiu que Christina, dona de um ar delicado e quase frágil, explorasse ao máximo sua ironia, mesclada a uma falsa inocência que deu margem para muita, muita manipulação. Uma figura ímpar na vida de Lizzie que, consequentemente, merece destaque é sua irmã Emma Borden, interpretada por Clea DuVall (a Georgina de "Girl, Interrupted" e a agente do FBI Audrey Hanson de "Heroes"). A química entre as duas é válida de nota, pois elas parecem realmente irmãs nas adaptações, mostrando aquela mistura tão característica de tensão, admiração e proteção. Outros nomes a serem enaltecidos são Stephen McHattie, canadense com um ar super sinistro que ficou simplesmente perfeito (apesar do final não tão perfeito) como o pai de Lizzie, Andrew Borden, e o charmosíssimo Billy Campbell, de quem os fãs de terror lembrarão como Quincey P. Morris de "Bram Stoker's Dracula", encarnando o advogado de defesa Andrew Jennings.
Já a série da Netflix The Lizzie Borden Chronicles ocorre alguns meses depois do julgamento, com Lizzie e Emma tentando reconstruir suas vidas diante do ostracismo que sofrem na pequena cidade. A personagem de Christina, uma vez absolvida, esbanja humor negro e não demonstra se importar com o que pensam a seu respeito. Uma verdadeira bon vivant depois de tudo o que passou, Lizzie não mede esforços (nem economiza no uso dos mais variados métodos de execução) para conseguir o que quer. Embora não esteja mais encarando um tribunal, um certo Charlie Siringo (vivido por Cole Hauser), nada mais nada menos que um agente Pinkerton, não sai da sua cola e a situação só se complica à medida que o número de corpos ao redor das Borden aumenta freneticamente.
Tanto o filme quanto a série seguem um determinado padrão. Com apenas um ano de diferença entre os lançamentos, seus pontos tanto positivos quanto negativos se mantêm, e fico feliz em declarar que, em minha humilde opinião, os primeiros derrubam os últimos com louvor.
A maquiagem e os efeitos, apesar da violência explícita, não caem no ridículo nem no apelo desnecessário. Tal qualidade só é valorizada pelo uso constante do slow motion e pelo contraste inteligente de cores em várias cenas. E já que falei de cores, os cenários - apesar de muito "limpinhos" - foram muito bem elaborados, desde a escala até os objetos de cena. Os figurinos vão desde o "clássico para não errar" até algumas extravagâncias de cair o queixo, o jogo de cores sempre presente. Aplausos de pé para a equipe responsável por tais departamentos, e eu me permito menção honrosa a Joseph Porro, figurinista de trabalhos como "Salem", "Equilibrium", "Ultraviolet" e "Resident Evil: Extinction" e a David LeRoy Anderson, conhecido pelos entusiastas da maquiagem devido ao seu desempenho em filmes como "M.I.B.", "Dawn Of The Dead", "Cirque Du Freak: The Vampire's Assistant" e da série de 2015 "Scream Queens". A trilha sonora não se prende à época da trama, mas cai como uma luva, mesmo que os intérpretes envolvidos não estejam no lugar-comum do mundo musical. The Donkeys, Ted McCloskey, Carolina Chocolate Drops & Luminescent Orchestrii, Elijah Honey...enfim, muita pegada sulista / country / hard rock pra ninguém botar defeito.
O lado negativo, no entanto, fica por conta da previsibilidade. Não chega a ser algo tão óbvio, mas mesmo que o enredo não fosse baseado numa história real é um bocado fácil deduzir quem morre e quem não, quem se dá bem, quem foge, e assim por diante. Qual é a graça, então? Ora, a graça é que você acaba querendo assistir mais e mais mesmo deduzindo o que vai acontecer. O roteiro é simples, conciso e direto. A iluminação e as cores são um espetáculo digno de toda a atenção. Não há um membro do elenco cuja performance frustre. Não é nem um pouco cansativo devorar os 8 episódios lançados em um ou dois dias. E se mesmo assim o convencimento não for bem sucedido, lembre que Christina Ricci não apenas foi amiga de um fantasma, uma menina que prendia o irmão numa cadeira elétrica, a amada do caçador do Cavaleiro Sem Cabeça ("Sleepy Hollow" de 1999) ou uma lobisomem de Wes Craven ("Cursed" de 2005). Ela retratou a parceira da Aileen Wuornos que rendeu a Charlize Theron o Oscar de Melhor Atriz em 2004. Com uma escola dessas, não dá pra não ser uma das serial killers mais memoráveis que você um dia verá.
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