NBDP entrevista: Dona Iracema

O rock é contestador e transgressor de barreiras. Pode ser o que quiser – vale tudo, quando feito com responsabilidade e compromissado com verdades. Esta pluralidade consciente, sintetizado como caatincore, é o ponto de partida da banda baiana Dona Iracema, de Vitória da Conquista, que acaba de lançar o diversificado Balbúrdia.

Conversamos com o grupo sobre a carreira, as dificuldades e o crescimento da banda. O resultado ficou divertidíssimo e você pode ler abaixo.

Ouça o álbum "Balbúrdia": https://sl.onerpm.com/6858403658
Crédito: Felipe Flores
1. A banda foi formada em 2012, já são sete anos de estrada. Quais foram as principais dificuldades pra se manter na ativa?
A grande dificuldade da coisa foi manter a ideia fiel ao longo dos anos , já que a banda passou por várias mudanças de formação, sobrando apenas o nosso baixista da formação inicial... baixista esse que é filho da Dona Iracema.
O resto é só correr atrás que tudo se resolve.

2. A Dona Iracema classifica seu som como "Caatincore Iracemático" para propor a mistura entre o rock e os estilos locais. Como é a formação musical de vocês em relação a esses estilos, como foi esse contato durante a juventude?
Na banda temos de tudo, desde um membro que fazia cover do Sepultura a outro que tinha banda de forró, então daí você pode imaginar a balbúrdia que é essa banda.
Cada pessoa na banda teve sua formação específica, há quem teve mais abertura com variados estilos, há quem em determinado momento foi mais fechado, mas uma coisa é fato, todes estavam ligades ao eixo metal/HC, e por mais que estejamos imersos cada em seus nichos, é esse eixo que nos une.

3. A banda tem uma identidade marcante, algo meio "zoeiro" que se reflete não apenas no som, mas também nos figurinos, poses para fotos... Como vocês chegaram nessa identidade? Até onde foi espontâneo e a partir de onde vocês perceberam que era algo interessante e começaram a colocar esses elementos propositalmente?
Diegão: A primeira apresentação que adotamos essa ideia de figurino foi num show dedicado ao dia da mulher, nesse show montamos toda essa ideia de se vestir a caráter e a partir daí não paramos mais, evoluindo e diversificando o figurino com o passar dos anos.

Balaio: Hahaha, adorei a pergunta. Acho que o resto da banda pode responder melhor, já que quando entrei na banda essa estética já existia. O engraçado e bonito dessa história é que me aproveitei desse jeito de se vestir dos outros membros, pra poder me vestir com roupas que sempre quis mas nunca pude. Quando entrei pra banda ainda não tinha me assumido publicamente enquanto mulher trans, e foi nesse processo de ir me sentindo a vontade e confiante que fui aos poucos colocando a ideia na cabeça do publico hahaha e sem dúvida o figurino (e aqui cabe aspas ou não haha) me ajudou.

Anderson: Eu nunca parei pra pensar nisso. Meus figurinos eu quem escolho e as ideias partem do nada. No início eu me vestia de Neo da Matrix, por que era um personagem que eu admirava e tinha a ver com uma resenha interna da banda. Depois que compusemos "Diabo na Raba", virou a fantasia padrão e tenho mantido. Fiz umas modificações recentemente pra poder ficar mais solto no palco. A ideia é ser divertido, confortável e sexy.

4. Em 2016 a banda foi selecionada para o Bolsa Estúdio, da Skol. Como foi essa experiência, sentiram muita diferença entre a estrutura oferecida e o que vocês já costumavam trabalhar?
Saímos apaixonados do processo e com vontade de gravar de novo. Resultado disso foi a nossa relação com Andre T ter ficado bastante próxima e gravamos o "Balbúrdia" com ele.

5. Como é lidar com a transfobia no mercado musical, com outros profissionais e com o público? Alguma situação que vocês gostariam de expor?
Anderson: Certamente Balaio é a pessoa mais apropriada pra falar sobre isto. Todavia logo quando entrei na banda, sofri uma ameaça em Salvador, enquanto atravessava a rua. Eu vestido de meia arrastão incomodou um grupo de homens que estavam próximo ao local do show. Achei aquilo estranho, a princípio. Isso por que era só uma fantasia, imagina se fosse aquilo como identidade.

Balaio: A transfobia no mercado musical existe, principalmente em determinados nichos onde há uma "hegemonia" de homens cisgêneros e heterossexuais. Atualmente o problema que tenho que lidar frequentemente é com a desinformação, sempre me deparo com frases transfóbicas, as quais as pessoas ao meu redor nem sabem que são agressivas. Também tenho que lidar com o descrédito do meu gênero.
Mas é importante salientar que também existem pessoas incríveis que estão ao nosso redor, seja na produção ou no público. É o amor e a compreensão que recebo dessus que faz tudo ficar bonito. É o carinho que recebo que me faz subir no palco todas as noites pra fazer o que mais gosto, ser eu mesma hahaha.

6. Muitas bandas insistem que é necessário estar no eixo Rio-São Paulo para ganhar visibilidade, mas tenho notado que o Nordeste tem sido cada vez mais visado. A cena musical na região sempre foi muito rica, o que vocês acham que mudou para que o holofote esteja chegando no local?
Com a tecnologia, os tempos são outros. A internet torna possível que bandas de todo país possam ser vistas, amadas e desejadas. O sensacional é que isso torna ainda mais plural e rico o ecossistema fonográfico. Invariavelmente o botão de compartilhamento é apertado quando um material único surge e isso é motiva a gente. O Nordeste é gigante e não perde em nada pra região nenhuma. Tudo que a gente quer é que ele tenha a visibilidade que merece.

7. Cite três bandas da nova cena nacional que vocês convidariam pra dançar um xote.
Folks, Hempadura, Baiana System e Figueroas. Ops! falamos mais de três né? É porque queremos dançar xote com muita gente hahaha


Ouça o álbum "Balbúrdia": https://sl.onerpm.com/6858403658

Comentários

  1. São anos de muita batalha todos com seus contra tempos, mais com perseveranca no final, a conquista chega na hora certa parabéns meninos o sucesso é só de vcs, boa viagem e joguem duro bjs bjs com Deus no comando sempre.

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