Alex Sant’Anna mostra pluralidade sonora no 3º disco ‘Baião Amargo’

A maturidade permeia ‘Baião Amargo’, terceiro álbum do cantor e compositor Alex Sant’Anna. Diferente dos primeiros registros, o novo disco teve cada acorde, vocalização e toda a produção devidamente pensada, elaborado por meio de conceitos bem amarrados do afrofuturismo, da pluralidade das influências (da brasilidade à música globalizada, de Tom Zé à Radiohead) e de participações de peso. São 11 faixas que transbordam em críticas sociais, dores pessoais e alheias, modernismos e alegrias.
Foto: Duane Carvalho
Ouça Baião Amargo no streaming: https://tratore.ffm.to/baiaoamargo

A arte gráfica da capa de ‘Baião Amargo’ é o ponto de partida para adentrar ao moisaico sonoro de Alex Sant’Anna, com conceito e arte de Carol Patriarca e Larissa Vieira. A trilha sonora de lembranças e daquilo que ainda ele deseja viver e sentir, além de carregar as marcas do passado, aponta para sua arte de forte identidade, como as raízes do boabá (a árvore da vida), que se ramifica em várias vertentes.

O músico de Aracaju (Sergipe), da naturalidade baiana, traz ritmos nordestinos altivos neste disco. O baião é o norte, com arranjos cristalinos conduzindo as canções, e amparado pelas percussões, que se apresentam como uma constante no álbum. A ruptura se dá pela incursão de guitarras limpas, baixos distorcidos em nuances ora progressivas, ora psicodélicas, mas que também pode afluir em uma grande festa, na cadência do samba.

‘Baião Amargo’ nasce a partir de uma vitoriosa campanha de financiamento coletivo (crowdfunding). Viabilizou desde a minuciosa produção, a cabo de Leo Airplane (a produção executiva é do próprio Alex junto à Nah Donato) e, principalmente, a participação de diversos artistas que contribuíram com vozes e acordes no álbum.

As participações, no entanto, surgiram com o disco já inteiramente composto. Diane Veloso (A Banda dos Corações Partidos), na impactante faixa de abertura ‘Por um Clique’, por exemplo, é o contraponto suave à voz grave de Alex. Trazer Jaque Barroso em ‘O Peso das Coisas’ foi natural: a composição é uma parceria. A instigante e moderna ‘Algo Novo’ conta com Marco Vilane, quem Alex chama de ‘parceiro’ e entende bem as ideias do compositor.

Já a forte e ácida ‘Morrendo em Paz’ tem a participação de Luiz Oliva, da banda Snooze. Por fim, ‘Baião Amargo’ tem também uma participação internacional: Karla Lamboglia, do Panamá, é quem traz nuances do folk na doce ‘Tudo em Seu Lugar’.

De tantas particularidades, ‘Baião Amargo’ funde elementos da música brasileira a elementos do afrofuturismo, numa mescla autêntica. Neste disco, Alex Sant’Anna deu continuidade à exaltação desta estética cultural, filosófica e histórica, concebida na década de 1960, que traz o protagonismo do negro. Do processo criativo ao disco em si, o músico alavanca elementos deste movimento de forma lúdica, colorida, pós-moderna e também com os dois pés na realidade.

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