Todos estão cegos, surdos, mudos e barulhentos

Já não ouço mais clamores
Nem sinal das frases de outrora
Os gritos são suprimidos
O corvo diz: "nunca mais"

Não parece haver mais motivos
Ou coragem pra botar a cara pra bater
Um silêncio assim pesado
Nos esmaga cada vez mais

Não espere, levante
Sempre vale a pena bradar
É hora
Alguém tem que falar

Há quem diga que isso é velho
Tanta gente sem fé num novo lar
Mas existe o bom combate
É não desistir sem tentar

Não espere, levante
Sempre vale a pena bradar
É hora
Alguém tem que falar

Pitty - Todos Estão mudos



Falar de rock no Brasil sempre foi uma coisa meio contraditória. Até porque este é um tema bem recente, as principais estrelas "fundadoras" do rock'n roll nacional ainda estão vivas e na ativa, o que mostra o quanto ainda estamos engatinhando no assunto. Por um lado, lógico. Por outro, eu sinto que o Brasil é o país que mais evolui no quesito música, até por termos várias raízes multiculturais fortíssimas que acabam se misturando à influência norte-americana e britânica no modo de fazer som.
Denunciando a minha pouca idade, eu sou dessas que tem menos da metade do número de anos necessário pra ter acompanhado a história do rock de muito perto. Sou nascida no final da década de 80, conhecida por ser a década de ouro das artes nacionais. Era uma fase difícil, bandas com material censurado e bem menos possibilidades de produção do que temos hoje. O custo para adquirir música e fazer música era muito alto, também. Logo, não era qualquer um que podia fazer seu barulho livremente por aí. E é até irônico que, mesmo com tantas limitações, as pérolas da música vieram exatamente dessa década. Os vocalistas da época não tinham medo de berrar letras que criticavam o que quer que desse vontade de criticar.
Depois disso, nos anos 90, parece que a coisa murchou um pouco. Desconfio que as facilidades tecnológicas e a nova liberdade acabavam com a sensação de perigo que empolga qualquer adolescente que se preze. Tivemos muita coisa boa surgindo nos anos 90, mas era mais concentrado. Cada região do país se isolou em sua própria cena que não tinha muito contato com as outras. Existiam uns que saíam pra tentar alcançar vôo em outros ares, mas eram bem poucos comparados aos tantos que tocavam seu rock'n roll nas garagens do Brasil. Foi se tornando cada vez mais difícil encontrar música brasileira de qualidade enquanto o exterior bombava com bandas que já podem ser consideradas clássicas mesmo sendo tão recentes.
Nos anos 2000 a coisa estava em um nível que eu considero bem estranhos. Foi quando tudo saiu do eixo de vez, mas logo em seguida a salvação apareceu. Em partes. Muitas bandas, visando fazer sucesso, começaram a copiar descaradamente o estilo de outras. Nada contra, até tive a oportunidade de entrevistar os caras uma vez e só tenho elogios, mas era um saco ficar vendo um bando de "covers" do Charlie Brown Jr se achando o máximo por aí. Igual o que acontece com o NX Zero hoje. Nada contra também, até acho que eles fazem bem o que se propõe a fazer, mas não é meu estilo. E as "covers" deles são piores ainda. Mas ao mesmo tempo que o pior do rock aparecia, o melhor também começou a dar as caras. Foi o caso da Pitty, que veio cheia de vontade de sacudir a cena nacional. Conseguiu, e está aí até hoje.
Em pleno 2010, eu não poderia deixar de falar da internet. Trabalho com mídias e redes sociais, vejo de perto a influência da web em tudo. E se tem uma coisa bacana é esse rock de sotaque que a gente pode apreciar praticamente de graça. Bandas como o Móveis Coloniais de Acaju (Brasília), Sabonetes (Curitiba), Volantes (Porto Alegre), Vivendo do Ócio (Salvador), Pirigulino Babilake (Salvador) e tantas outras que, eu sei, me sinto até culpada por não citar. É gostoso saber que, mesmo não tendo vivido os anos de ouro do rock, eu posso viver essa fase de transição, revolução e combinação. Nossos músicos estão cada vez mais ousados na mistura de estilos. E vamos lá, nossas pérolas chamam muito mais atenção quando brilham no meio desse lamaçal musical de hoje.
Se antes era muito difícil lançar o seu som e ainda ter que tomar o cuidado pra não ser censurado por ele, hoje é tudo muito fácil. Cada dia surge uma nova banda que desaparece meses depois da mesma forma que chegou. Do modo inverso, estamos de novo passando por um desafio coberto daquela boa e velha sensação de perigo: Você tem que ser bom, cara. Senão, você é apenas mais um.
E que venha a criatividade!

Comentários

  1. ta, eu sei que se para pra avaliar existem ligações, como por exemplo o preconceito a exclusão,etc...

    Mas ainda sim, pra mim que também não viveu a epoca de ouro do rock e mesmo se vivesse estaria não teria sido tão afetada,como foi comum nacionalmente falando, eu so acho que quando vejo o rock vejo algo lendario, caras que chocaram e marcaram a historia, mas não porque chocaram e sim porque no fundo eles traziam algo realmente bom, eu não consigo olhar para uma banda a la NXzero e te dizer que a influencia deles é boa e eles duraram muito mais que uns 5 anos. E isso pra mim remete a pop, até pop/rock, não rock, do tipo rock'n'roll.

    ResponderExcluir

Postar um comentário